quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Defenestrações, por Mari Migliacci

Atiro-me, desgarrada, infame, desprotegida. Atiro-me aos braços do amigo, do inimigo, do sorriso, da lágrima. Atiro-me ao riso, à dor, ao sofrimento. De olhos fechados, prendendo a respiração, atiro-me para frente. Meus pés desgrudam-se lentamente da superfície gélida. Atiro-me ao infinito, liberto-me do insuportável, desagradável, do desconforto, do desaconchego. Atiro-me à liberdade, à esperança, ao sonho. Atiro meus textos em páginas em branco. Minhas idéias desconexas e confusas ao acaso. Minhas histórias pela janela. Defenestro-me, e assim o faço com minhas elucubrações, minhas paixões, meus desejos.

Amo esta gatíssima mana Mari Migliacci. Linda que conheci na época do vestibular e nunca mais quis largar. Infelizmente neste ano pouco nos vimos... mas nos prometemos nos encontrar com mais frequência em 2010. Que assim seja!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

mediocridade

gosto do meio. é nele que os extremos colidem e a ambiguidade governa implacavelmente.

[john updike]

. imaturidade

Havia um tempo em que eu sentia que eu não estava vivendo, que eu precisava de mais. De mais o quê? Era isso que eu achava que sabia, mas de fato não sabia. Achava que precisava sair mais, ver mais gente, ler mais, ver mais filmes cult, ver os filmes que "todo mundo via", conhecer as bandas que "todo mundo ouvia", ter mais amigos no circuito da Augusta e adjacências, viver mais intensamente, talvez. Talvez viajar pra longe. Como se com isso minha vida fosse ser mais feliz. Hoje eu vejo que embora eu ainda queira muitas dessas coisas - não mais todas - me parece que não vai ser isso que vai mudar minha vida. Na verdade já entendi que a vida da gente não muda assim. Não com isso. Mas muda quando a gente começa a fazer diferença pra alguém, quando outra pessoa coloca na gente certas expectativas que a gente aflige corresponder - e nem sempre consegue. A vida da gente muda quando a gente se percebe como de certa forma responsável pelo que pode acontecer a outra pessoa. Quando a gente percebe que somos nós mesmos que temos de fazer o que é preciso fazer para que algo aconteça, sem esperar que façam por nós. Quando começamos a amadurecer. E isso acontece vivendo, sem dúvida - e errando também. Mas como se vive depende de quem se é, o que por sua vez depende do caminho que se percorreu até hoje, e isso embora não possa ser determinante para o futuro, determina muito do que somos. Assim, mesmo que nunca tenha tido o costume de sair muito ou que não tenha uma bagagem cultural da qual se diga "minha nossa, quanta cultura", sei que vivi coisas que outras pessoas não viveram. Sei de coisas que outras pessoas não sabem, vi coisas que outras pessoas não viram, conheço lugares a que outros não foram. Tenho minhas próprias preferências, minhas próprias referências, minha própria história. Por isso já me sinto feliz por ter passado da fase de ficar esperando que um toque mágico do céu me transformasse numa pessoa "interessante, descolada, chocante e bacana". Hoje espero que a vida faça mais sentido, sim, mas à medida em que eu aprenda a lidar com as situações por mim mesma, e não querendo agir de uma forma que supostamete seja ideal. Tô bem atrasada com isso, mas ok. Nesses casos, melhor tarde que nunca.