quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

2009

Vem aí um ano novinho em folha. (E junto com ele, uma nova gramática)

2008 foi um ano bem bom, mas tomara que que 2009 seja ainda melhor =)


terça-feira, 30 de dezembro de 2008

a quatro mãos

Loucura consciente é out
Loucura consciente é um paradoxo
Loucura consciente é um paradigma
E porque não dizer, um cataclisma?


segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

delírio?

acho que estou padecendo de um mal que há séculos atinge a humaninade: estou ficando louca.
tudo começa com a curiosidade, você começa fazendo perguntas, das quais muitas ficam sem resposta. quando você percebe não está mais conseguindo dormir, porque começa a se questionar sobre qual é o sentido da vida, por que a humanidade está como está, por que há deus para uns e para outros não, será que deus existe mesmo, será que a melhor é a católica ou a protestante, será que o melhor mesmo é ser simplesmente cristão, será que a melhor é a umbanda ou o espiritismo, será que o budismo, o hinduísmo, será que tem alguma coisa depois que a gente perde os sentidos e morre. as questões sobre religiosidade, sobre deus, sobre morte, estão intimamente relacionadas com as questões sobre o que rege esse universo, que forças são tão capazes de fazer com que a gente simplesmente viva todo dia sem quase parar para pensar no que é que nos dá vida, o que nos diferencia uns dos outros, o que faz brotar a individualidade de cada ser humano. será que temos destinos já traçados, será que nós escrevemos nossa própria sorte, será que a gente tá mesmo no mundo, será que eu não sou você.
será que eu tô ficando louca?

(texto candidado a ser deletado em breve)

domingo, 28 de dezembro de 2008

José Saramago

"(...)
Que fazer? Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito de estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute. Ora, se não estou em erro, se não sou incapaz de somar dois e dois, então, entre tantas outras discussões necessárias ou indispensáveis, é urgente, antes que se nos torne demasiado tarde, promover um debate mundial sobre a democracia e as causas da sua decadência, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as relações entre os Estados e o poder económico e financeiro mundial, sobre aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicidade e a uma existência digna, sobre as misérias e as esperanças da humanidade, ou, falando com menos retórica, dos simples seres humanos que a compõem, um por um e todos juntos. Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. E assim é que estamos vivendo.
(...)"

(pequeno trecho do texto "Este mundo da injustiça globalizada", lido no Fórum Social Mundial de 2002)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Voar...


Ele adora a sensação do vento nos cabelos, no rosto e até a leve falta de ar, causada pela velocidade. Gosta de planar e ver tudo movendo ao redor. Toda vez que tem a possibilidade de voar, nem que seja por poucos segundos, sempre o faz com gosto, pois não é o tempo todo que isso acontece, já que não nasceu na classe das aves e, portanto, não possui asas...

Na verdade ele não escolhe os momentos de vôo, estando sujeito à vontade alheia. Não se tem certeza se de fato ele gostaria de ter nascido com asas, afinal um bebê ainda não sabe se expressar verbalmente, talvez não saiba nem o que gostaria de ser... Mas a expressão de alegria em seu rosto durante os curtos rasantes é contagiosa!

Ele nunca falou sobre se gosta mesmo de voar, mas os que o vêem podem aferir isto facilmente, pelos risos que se soltam de seu rosto e os olhinhos que se arregalam curiosos.

Aos seis meses de idade, ele “voa” nos braços dos mais velhos e com sua risada enche de satisfação estes que tanto apreciam fazê-lo feliz e que tentam, como podem, tranqüilizá-lo em seus momentos de “dificuldade”, como quando a mamadeira atrasa alguns minutos ou quando os brinquedos lhe caem das mãos – que ainda não apresentam total destreza para procurá-los e pegá-los de volta quando estão longe.

Ele gosta de voar, mas talvez quando crescer não se lembre mais disto. Provavelmente não se lembrará de como disputávamos para ver quem o faria dormir, quem daria mamadeira, quem o pegaria no colo quando estivesse manhoso ou quando acordasse assustado de seus cochilos.

Ter um bebê em casa é uma experiência transformadora. E eu, apenas na posição de tia, me sinto também responsável pelo desenvolvimento dele; me sinto preocupada com o mundo no qual ele nasceu, vai crescer e se tornar adulto. Imagine o pai e a mãe...

Penso que trazer alguém para o mundo é algo muito difícil, porém mágico. Não me atrevo a dizer que “ser mãe é padecer no paraíso” ou qualquer outro clichê, afinal até agora só estou para titia...rs. Mas é que desses seis meses que tenho acompanhado minha irmã e meu sobrinho, pude perceber que a experiência de ter um filho é uma das coisas mais revolucionárias para um ser humano.

Provavelmente quando for adulto, ele não se lembre de quando era um bebê, mas nós lembraremos. E acho importante que ele cresça sabendo que sempre teve muita gente ao redor dele disputando seus sorrisos, seus pulinhos, suas palavras que não entendemos. E que conforme for crescendo, ele saiba que as pessoas não são todas iguais, não têm sempre as mesmas chances, assim como não têm as condições todas iguais, mas nem por isso são menos ou mais importantes.

Espero que quando ele crescer, consiga voar mais alto do que nós o fizemos, para que possa alcançar, junto com os outros da geração dele, aquilo que até agora não conseguimos. Que ele faça parte de um mundo melhor e que ele atue na construção e manutenção dele. Espero que ele tenha sempre estes olhos curiosos que tem hoje. E que alce vôos cada vez mais altos. Ele parece mesmo gostar.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

sonhando


hoje eu queria estar numa savana onde os bichos são de pelúcia ou movidos à pilha. não queria ter dores de cabeça pensando no que virá na semana que vem. queria estar mergulhada numa piscina de água de cor rosa-choque e tomando suco de dentro de um abacaxi. eu queria ter uma armadura que permitisse destruir tanques de guerra. queria não ter que usar despertador pra não perder a hora. queria que o sol fosse um girassol e que as nuvens tivessem escadas. eu queria transformar sonhos em realidade e não ter que ficar na fila do banco. eu queria não ser tão boba.




sábado, 25 de outubro de 2008

Troca de cara

Mudei o "leiaute" do blog. Mudar às vezes faz bem um pouco, mesmo que só na aparência...
Ando meio desanimada pra escrever e a correria tem me impedido de aparecer com freqüência por aqui e pelos outros blogs que gosto =/
É que por aqui tem sido constante parecer bom quando se escreve e uma bosta quando se lê.
Mas não desisti, quando tiver algo publicável (não significa exatamente bom...rs) defenestrarei por esta janela =D

Hoje de manhã fiz isso:


É bom dobrar papel e ver no que dá. =)

domingo, 14 de setembro de 2008

às 18:00...


Passam muros coloridos, muros cinzas, muros com cartazes. Pessoas com bolsas, pessoas com casacos. Diferentes imagens: de pressa, de calma, de prece, de alma. A hora do rush, a happy hour, a hora da Ave Maria, a hora do fim do expediente, do fim de mais um dia, a hora-limite entre duas rotinas, hora do caminho de volta pra casa, do caminho pro estudo ou do caminho pra ‘balada’, a hora em que o corpo acorda e sai do piloto-automático, a hora de ser um pouco mais nós mesmos, depois de ser o dia inteiro, só funcionário.

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Foto: do Google, hora do rush em Tokio... mas também podia ser São Paulo, Nova York, Londres...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

giving up

"Eu desisti. Sim, desisti de coisas que me atravancavam a vida.
Desisti de fingir querer comprar a roupa da moda.
Desisti de achar que queria pintar o cabelo de vermelho.
Desisti de me forçar a acreditar que uma roupa da moda e o cabelo vermelho significariam um passaporte para a renovação.
Desisti de tentar descobrir o que se passa na cabeça das pessoas, de modo a analisar meus atos a partir do ponto de vista que têm em relação a mim.
Desisti de procurar ser sempre agradável.
Desisti de encanar com toda e qualquer ação minha, com medo do depois.
De procurar achar o que não existe.
Eu desisti com dificuldade, porque parecia que desistir de certas coisas era como um ato de irresponsabilidade adolescente. Afinal eu sempre tive uma idéia de que o altruísmo implicaria no auto-esquecimento, a humildade, na auto-colocação para baixo... enfim, confusões grosseiras que empataram minha vida durante tanto tempo.
E depois que eu abstraí as auto-cobranças, as neuras, as bobeiras que rondavam a minha cabeça, comecei a me sentir melhor, mais leve. A princípio dá uma sensação de desonestidade, de estarmos traindo nossas convicções, de faltar com a palavra dada a nós mesmos, afinal é uma mudança de paradigma, você passa a não se preocupar com coisas que até então eram fundamentais para o seu modo de vida. Mas quando você lembra que tudo isso te causava mal estar e te tirava a tranqüilidade e te fazia sofrer, vc vai convicto.
E vc desiste de tudo isso, tudo isso que era dispensável, tudo isso que era no fundo, muito exagerado, tudo de que vc não precisava, na verdade."



Ela lia isto como se repetindo a leitura, automaticamente estivesse pondo em prática aquilo tudo que havia sido escrito num momento em que a alma estava apertada, maior que o corpo, como se quisesse escapar de algo que a prendia. No fundo sabia que nada seria posto em prática de fato, mas lembrar ter tido um momento em que pôde refletir sobre sua condição e possibilidades de mudança, a animava de alguma forma.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

primavera


A verdade é que quase tudo agora me cansa.
É como se tudo que tá pra acontecer fosse velho, já sabido.

Parece com um algo que veio e passou
Levando embora toda a cor, toda a graça.

Eu não sei nem se eu mudei,
ou se as coisas mudaram,
ou se eu só acordei.

Talvez nem isso, nem aquilo, nem aquele.

Talvez só bode, e tudo volte.
Talvez pra sempre, desde agora.
Ou então, sei lá: vamos ver no que dá.

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sábado, 16 de agosto de 2008

anotação

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As coisas ruins são tão contagiosas quanto as boas.
É tudo uma questão de vacina.
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domingo, 10 de agosto de 2008

Poxa, vida...


Um dia a gente acaba tendo que encarar e aceitar que as coisas nem sempre são como gostaríamos ou imaginávamos, ou duram menos do que a gente previa, ou são interrompidas, quando estávamos no auge do aproveitamento. E embora pareça, isso não é conformismo, porque muitas vezes há resistência, há a tentativa de que as coisas não mudem, de que não sejamos retirados da nossa zona de conforto. Mas nem sempre resulta como gostaríamos: as coisas realmente mudam.

Um dia a gente percebe que não importa o quanto se tente, certas coisas não acontecem mesmo e isso não é por incompetência, mas talvez porque não era pra ser.

Uma hora a gente aprende que embora as coisas não sejam permanentes, não quer dizer que não tenham sido sinceras, verdadeiras e intensas e que se elas tornam-se esporádicas, nem sempre é por vontade, mas pelas circunstâncias e o desenrolar louco da vida, vida que vira e mexe altera até mesmo as mais monótonas das rotinas, afastando amigos queridos, diminuindo a freqüência dos contatos, fazendo com que o tempo passe incrivelmente rápido a ponto de nos espantarmos ao ver que já faz muitos meses que não se envia um e-mail, não dá um telefonema, não responde mensagem.

A gente acaba percebendo que algumas amizades, embora sejam deliciosas, não conseguimos manter sempre por perto, e isso não deveria nos tornar canalhas, já que nem sempre o afastamento depende da nossa vontade.

Imagino que se fosse possível, muita gente preferiria viver para sempre no mesmo círculo de convivência, mas a vida nos obriga a ir tomando outros rumos, e outras pessoas chegam, enquanto outras acabam se afastando. Mas isso não significa que nos esquecemos daquelas que a vida afastou da gente, muito menos que fosse uma amizade falsa. Há casos em que não importa quanto tempo passe, ao reencontrar essas amizades que se afastaram, tudo é tão natural que é como se o tempo não tivesse passado. Isso pra mim é um indicativo de que é de verdade, mesmo que não haja um contato constante.

Eu agradeço à vida por ter as pessoas que tenho como amigos. Talvez alguns não tenham idéia do quanto são importantes para mim e talvez eu nunca consiga demonstrar isso. É difícil quando a gente não consegue fazer tudo o que gostaria, quando o tempo passa rápido à nossa revelia. É difícil quando acontecem desencontros, ou quando não dá pra conversar direito porque alguém tá muito ocupado. É difícil não ficar triste de saudade quando ela aperta. Mas é bom saber e lembrar dos momentos bons, das risadas, das besteiras, das conversas...


Me angustia não saber mais como escrever ou dizer. Me angustia saber que nem todos os meus amigos vão ler isto. Talvez alguns achem isso de uma pieguice sem tamanho... Mas o que importa é que todos saibam que mesmo de longe, cada amigo que fiz continua sendo extremamente importante na minha vida.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

(Desabandonando o blog)


Às vezes a gente se sente meio palhaço, fazendo coisas que não gostaríamos de fazer, mas fazemos porque as circunstâncias acabam nos forçando de alguma forma. Assim é com o palhaço que, na frente do público, vestido a caráter com roupas largas, maquiagem e o nariz vermelho, não tem outra alternativa a não ser fazer o papel que lhe cabe, sendo o alvo dos risos.

Claro, isso é uma metáfora (talvez infeliz), a única que me veio à cabeça, pra poder expressar como tenho me sentido pessoalmente. Na verdade, louvo o papel do palhaço, de alegrar as pessoas com seus números cheios de cambalhotas e trejeitos-sem-jeito. Mas o que quero dizer é que o palhaço é alguém por trás daquele nariz vermelho que, mesmo sem querer, está sempre arrancando risos, pelo simples fato de ser um palhaço.

Às vezes não precisamos fazer nada. O simples fato de ser como somos e termos nosso jeito de lidar com as situações, nos torna alvo de algo constante e perturbador. Às vezes alguma situação pode ser passageira, às vezes ela pode ser mais demorada. O fato é que por mais que se tente lutar, e quando se pensa que tudo já passou, lá estamos de novo mergulhados na mesma, com todos ao redor esperando pelas cambalhotas.

E as cambalhotas, e flores que atiram água, e os trejeitos-sem-jeito não são mais do que pedidos de atenção e tentativas infrutíferas de conversas. O respeitável público muitas vezes nem está lá de fato, não sendo nada além de alguma entidade que nos faz agir como se não tivéssemos mesmo saída, e para este pseudo-público, fazemos nossos números, arrancando as risadas mais sarcásticas que alguém já escutou.

Acho que a metáfora foi mesmo infeliz, ou a explicação foi confusa. O fato é que tenho me sentido meio palhaça, por sentir coisas involuntariamente, mediando brigas entre emoção e razão e saindo sempre prejudicada. Mas nem por isso desabono o palhaço que, mesmo diante do público mais sério, conquista sempre ao menos um dentre milhares e deste um, arranca risos sinceros e satisfeitos. É o que lhe motiva a continuar sendo palhaço: a consciência de que de alguma forma seu papel vale toda a pena, o que não se aplica a mim, já que na verdade, embora às vezes pareça, eu não sou um palhaço.

sábado, 31 de maio de 2008

Fim-não-fim


Este é um blog nascido da morte de outros blogs. O último falecido levava este mesmo nome, Defenestrações. O verbo defenestrar significa atirar algo por uma janela. E aqui, de fato, não se via outro nome a dar para uma janela de internet por onde se arremessavam textos dos mais variados tipos (dos ruins aos meia-boca, além de algumas postagens de músicas e uns bons textos de terceiros, gentilmente cedidos ou furtados).

Era um blog assim, simples. Um espaço onde a dona (se assim se pode chamar a quem tem uma página gratuita na internet) defenestrava o que lhe vinha às vezes à cabeça, às vezes ao coração (bonito isso).

Mas é agora assim, um blog abandonado. A dona não mais o atualizará durante um tempo, tanto por falta de criatividade em escrever algo que preste, quanto por falta de vontade em publicar seus últimos rabiscos, em geral, sem muito sentido para quem os viesse a ler... =/

Talvez volte a ser usado. Mas por enquanto, é um blog abandonado.

No momento a criadora (se assim pode-se chamar quem abriu uma conta no blogger e saiu postando textos seus e de outros, além de alguns vídeos e letras de músicas) vai se dedicar a outras tarefas, como os trabalhos da faculdade, as aulas como professora voluntária, o estágio no museu de ciências, o recém-nascido sobrinho e quem sabe alguns artesanatos, quando sobrar algum tempo.

Sendo o que tinha para o momento, agradece pelas visitas recebidas e desculpa-se por alguma postagem esquisita que porventura tenha causado alguma confusão ou mal estar,

a autora (se assim pode-se chamar).

terça-feira, 27 de maio de 2008

Ismália



Quando Ismália enlouqueceu
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

Alphonsus de Guimaraens (1870 - 1921)

segunda-feira, 26 de maio de 2008

São Paulo


São Paulo é essa cidade de horizonte incerto, de céu cinza, de concreto.
Esse lugar onde há tanta gente e ao mesmo tempo tanta solidão.
Onde sempre existe algo que seja compatível com qualquer: religião, time, idade, orientação sexual, interesse, classe social; e onde apesar disso, as diferenças gritam.
Onde grandes oportunidades se esbarram com grandes furadas.
Onde se compra gato por lebre.
Esse lugar onde as pessoas são tão diferentes quanto iguais.
Onde tudo acontece ao mesmo tempo.
Onde há uma chance de rir e de chorar nas mesmas esquinas.
Onde tudo o que se vê pode não ser alcançável.
Essa cidade onde o céu da noite é triste, com suas estrelas apagadas pela fumaça.
Onde as pessoas se olham, mas nem sempre se vêem.
Essa cidade com milhões de possibilidades, com milhões de destinos, com milhões de pessoas que se deslocam dia e noite, do trabalho para casa e vice-versa.
Essa cidade onde o belo dá as mãos ao feio.
Onde o encantamento dos prédios antigos mistura-se aos espelhos dos novos.
Onde moradores não vivem porque moram na rua.
Onde cada carro abriga um ser individual.
Onde em consultórios psiquiátricos, a angústia é compartilhada em silêncio ou em poucas palavras.
Essa cidade que recebe chegantes de todo o mundo.
Essa cidade que engole as menores, que conurba.
Esse lugar que atrai ao mesmo tempo em que repele, que encanta e que assusta.
Esse lugar que canta, que dança e que joga.
Esse lugar onde tudo pode não ser o que parece, onde o bom pode ser ruim, onde o divertido pode ser enfadonho.
Essa cidade de contrastes e de uniformes. De patrões, de gerentes, de operários, de profissionais liberais, de desempregados e de tudo o mais.
Essa cidade que sofre de insônia crônica, mas que ainda descansa em alguns feriados.
Essa cidade onde seus moradores revezam-se entre amá-la e odiá-la, dependendo de como estão o trânsito, a noite, o ar, os parques, o humor...
Essa cidade onde tudo se encontra, e muita coisa se perde.
Onde nascem e morrem paixões, onde se vivem decepções, onde se alimentam esperanças.
Essa cidade que é palco e platéia, que é protagonista e figurante, que é diretor e contra-regra.
Essa cidade onde há tudo e há nada.
Onde tudo é provável. Onde tudo é possível.
São Paulo é essa cidade, onde embora eu não durma, eu vivo.

E para vc, o que é São Paulo?
Pintura de Tarsila do Amaral

sábado, 10 de maio de 2008

23:20 p.m.

planta sem água. chuveiro frio. balde vazando. torneira pingando. margarina sem sal. doce com recheio azedo. pão velho. calendário do ano passado. meia rasgada. sola gasta. cabelo armado. guarda-chuva quebrado. humor ruim. fita mal gravada. óculos embaçado. vidro trincado. ônibus errado. computador desconectado. teclado desconfigurado. impressora sem tinta. jornal amassado. caderno manchado. livro atrasado. notícia desinteressante. cachorro-quente sem salsicha. bolo solado. pneu furado. mochila com zíper emperrado. sono atrasado. prazo estourado. tudo errado.

domingo, 4 de maio de 2008

Vida


Existe algo que me atordoa, mas não sei direito o que é.

Tem a ver com o ar que se respira; com o trem que lota; com a chuva que alaga; com as pessoas que passam e vão; com as catracas, bilhetes e placas; com carros na contramão; com piadas de mau gosto; com restaurante sem tempero; com almoço de domingo, família, tevê, macarrão, passeio...; tem a ver com o que eu quero dizer mas não sei como; com o silêncio que alardeia; com a indiferença que maltrata; com a resposta que não chega; com a carta extraviada. Tem a ver com o que não cabe nas mãos; com o que esvazia o coração; com o que não faz falta e o que tem precisão.

Tem a ver com a vida e todas as perguntas das quais ainda não sei a resposta (provavelmente jamais saberei). Tem a ver com você que lê isto enquanto imagina se tudo isso faz sentido. Tem a ver comigo, com meus pais, minha irmã, meus amigos. Tem a ver com um deus que existe, mas não para todos e não com o mesmo nome. Tem a ver com o mundo doente e com a natureza cansada. Tem a ver com a paz sonhada, com a violência mascarada e descarada.

O que me acomete talvez seja a perplexidade em relação à Vida e sua louca forma de se descortinar, sua forma de estar calada enquanto tudo explode, enquanto tudo acontece ao mesmo tempo. E sua capacidade de seguir indiferentemente, apesar de tantos impedimentos ou percalços. A Vida e sua mágica fazem-me de vez em quando imaginar o quão importante deve ser cada uma das medíocres vidas que pela Vida passam...

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Um conto urbano sem final

Sentava-se sozinho num dos bancos da praça próxima à sua casa. Costumava passar muitos minutos e às vezes até horas ali, sozinho. Olhava os transeuntes, mas não os via completamente. Buscava a si mesmo. Tentava saber onde havia ido parar a parte de si que o faria não mais sentir a necessidade de estar sempre só. Uma necessidade como que obrigatória, se é possível entender. No fundo não queria a solidão, mas necessitava dela. A solidão de certa forma o resguardava da responsabilidade de ser companhia.

Uma tarde uma pessoa sentou-se ao seu lado, no banco da praça – era sempre o mesmo banco. Comentava sobre notícias, dizia uma série de coisas, contava-lhe de algumas aflições e tristezas, porém ele sequer fazia comentários em resposta: apenas olhava em alguns momentos, enquanto pensava no porquê desta pessoa ter escolhido a ele para se lamentar sobre as agruras de sua vida, como se sentisse incomodado por lhe terem roubado o silêncio e a solidão.

Até que esta pessoa parou de falar. A cena pareceria um retrato, tamanha estaticização de ambos a olhar para frente, um ao lado do outro. Mas na praça tudo se movia calmamente, sem mostrar haver importância se um ou outro daqueles dois estava ou não ali. No instante seguinte, o olhar que era paralelo tornou-se perpendicular. Incomodado, repeliu o olhar, que se voltou para frente outra vez.

O que unia estas duas pessoas naquele banco era o fato de que ambos tinham modos diferentes de lidar com a mesma aflição: a de estar no mundo e não se sentir parte dele. Um sentia medo, o outro também. Um tentava adaptar-se, outro tentava esquivar-se. E à medida que os minutos foram passando, como que por telepatia um havia compreendido o que havia com o outro, mas ninguém dissera nada a respeito.

A mútua companhia silenciosa daqueles últimos minutos o havia feito perceber que, no fundo, aquele de si a quem procurava nunca havia ido a lugar algum, sempre estivera ali. Porém ele mesmo o mantivera guardado, como senhores que guardam os óculos no bolso e esquecem onde os deixaram.

E agora já não sabiam mais o que fazer.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Poeminha descontraído :)

















Se Felicidade fosse algo de pegar
Seria como um bichinho que foge,
Que ao ver a mão do homem
Corre o máximo que pode

Mas o homem, caçador que sempre foi
Pela fuga dela não se deixaria vencer
Moveria o que preciso fosse
P’ra a Felicidade a ele se render

Para ele não bastaria o contentamento
Nem tampouco a satisfação
Quer sempre ter os bolsos cheios
E também o coração

E de armadilha em armadilha
E de caminho em caminho
Correria o homem – incansável
Sempre atrás desse bichinho

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Pergunto...


...se não seriam todos os acontecimentos calmamente planejados por alguém cujo senso de humor e criatividade são extremamente peculiares. Alguém que se diverte ao ver de uma posição favorável tudo o que aqui embaixo acontece. E, brincando de enganar a si próprio, just for fun aposta no desfecho dos episódios, mesmo já sabendo os seus finais. Aposta com os teimosos de cá que, diante de alguns sinais de que é melhor ir por outro caminho, vão pelo que haviam escolhido, senhores de si. Perdem a aposta, claro. E aquele que já sabia de tudo, mostra quem é o dono do jogo. Ironicamente alguns dos teimosos passam a prestar mais atenção aos tais sinais, mas como são teimosos e também menos sabidos, terminam sempre caindo nas peças que prega aquele que é de todos, sempre o mais sabido.

domingo, 13 de abril de 2008

Celular 1 x 0 Paula


Quem me conhece sabe do meu minúsculo apreço (para usar um eufemismo) pelos celulares. Evitei o máximo que pude, até que no último Natal, fui presenteada com um. Por sorte, um modelo bastante simples: faz e recebe ligações, tem calendário, relógio e despertador. Não baixa mp3, não toca música, não tira foto, nem tem o tal de bluetooth... é apenas um telefone celular =)

Eis que passo a me valer dele para acordar diariamente nas horas certas pra poder fazer as coisas no horário: eu programo, ele desperta, eu levanto. Perfeito. No entanto, deparei-me com uma “nova” função: o modo silencioso. Para mim, que tudo relacionado a celular é novidade, parecia ser uma boa essa de usar o modo silencioso. Assim, caso alguém me ligasse durante o trabalho ou a aula, não haveria interrupções por musiquinhas nem por barulhinhos de vibração – o famoso “grzzzz grzzzz” =

Mas a minha satisfação terminou certo dia quando eu descobri, quarenta minutos atrasada, que quando coloco no tal modo silencioso, O DESPERTADOR TAMBÉM FICA SILENCIOSO. Poxa, tudo bem que eu fui ingênua, mas gente, qual a função de um despertador silencioso?? Nada é tão contraditório! Será que alguém usa o despertador silencioso? O pior foi a raiva em ver o negócio “apitando” mudo e “dizendo”: “Despertador” e ainda dando as opções “soneca” e “sair”... Faça-me um favor né...! ¬¬

Bom, depois de correr e sair de casa em jejum e ainda assim chegar atrasada (afinal nenhum atraso é capaz de impedir o querido banho), cheguei a conclusão que realmente celular é uma coisa do mal, à qual eu (ainda) sou avessa. Mas como tudo (ou quase) nessa vida é também uma questão de adaptação (até as coisas das quais não gostamos muito, mas que em certas ocasiões são necessárias – como é o caso do celular-despertador, para mim, totalmente necessário) ao menos esta lição eu já aprendi: modo silencioso, não!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

I need inspiration too...

Eu preciso de inspiração para manter esse blog. Também preciso de inspiração para pensar no meu trabalho de conclusão da graduação. Seria bom se viesse inspiração também para resolver algumas pendências da vida. E seria ótimo se a gente pudesse encontrar inspiração nas prateleiras da farmácia ou do supermercado =/

A que se pode atribuir inspiração? De onde ela vem? Não sei, mas ela vem sempre sem avisar. Às vezes dentro do trem, ou no meio da rua... Às vezes vem na hora em que estamos quase pegando no sono, com a cabeça deitada no travesseiro, naquela hora em que todos os pensamentos parecem tentar nos impedir de dormir... E às vezes ela não vem, simplesmente.

Eu preciso de inspiração.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Era-se

Era uma tremedeira, era uma sede.
Era um caminhar apressado, uma curiosidade.
Era uma vontade que não terminava.
Uma infinita paixão que se sabia, no fundo, finita.

Nunca era junto, era sempre só.
Era sempre de um lado apenas.
Era sem resposta completa.
Era com muito silêncio e sem nenhuma explicação.

Era com muita interrogação,
E com muito interesse.
Era com muita dedicação.
Era com reticências.

Era sempre um desejo calmo.
Era sempre uma determinação boa.
Era algo concreto, porém desacreditado.
Era de verdade, mas não era regado.

Era.
Era.
Será que, finalmente,
Era?

quinta-feira, 27 de março de 2008

Save you - Pearl Jam



I'm gonna save you fucker, not gonna lose you
I'm feeling cocky and strong, can't let you go
Too important to me, and too important to us
We'd be lost without you
I'm there, let yourself fall,
I'm right below you now

And fuck me if i say something
You don't want to hear, from me
And fuck me if you only hear
What you wanna hear, from me, if i care
But i'm not leaving here

You helped me when i was down,
I'll help when you're down
Why are you hitting yourself?
C'mon and hit me instead
Let's pick up your will,
It's grown fat and lazy
It's sympathetic as well,
Don't go on me now

And i'm not living this life without you,
I'm selfish and clear
And you're not leaving here without me,
I don't wanna be without...
My best friend
Wake up to see you could have it all
Whoa!

Cuz there is but you,
And something within you
Has taken control,
Let's beat it
Get up, let's go
Oh, you're in your own world,
Let's see the whole world!
Let's pick up your soul

And fuck me if i say something
You don't wanna hear from me
And fuck me if you only hear
The tremble in your head
Please help me to help you
Help yourself!
Help me help yourself
Help me, please want me to
Please let me to, help you...

quarta-feira, 26 de março de 2008

Anotações de meia-noite


Não se pode dizer que não houve tentativas. Houve várias. Algumas com resultado, a maioria sem. Se não se pode dizer que estes resultados foram plenos, ao menos fizeram com que a alegria de alguns momentos parecesse a própria felicidade, mesmo que ela terminasse dali a dois dias, quando uma nova tentativa voltava sem resultado.

A imprevisibilidade é algo que encanta, mas que ao mesmo tempo amedronta, porque depois de um tempo ela pode aparentar ser previsível: se uma coisa que não se previa acontece algumas vezes, sempre a despeito das nossas expectativas, passaremos a imaginar que estes imprevistos ocorrerão nas próximas ocasiões, sendo assim previsíveis. E aí vem o medo da nova tentativa.

A persistência é algo que maltrata mas que também, contraditoriamente, ajuda. Se insistimos em algo até que tenhamos a certeza de que é bom ou ruim, é porque não nos conformamos com algo que nos atordoa. Persistir, resistir, insistir... por mais que possa ser maçante, é uma forma de quebrar barreiras e chegar até onde se possa, até que sintamos que "aqui é o limite". Em que pese as possibilidades de se ''quebrar a cara'', ao menos sabe-se que tudo quanto se pôde fazer, foi feito.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Rosa - Origami 2


Depois do tsuru, chegou a vez de aprender como se faz uma rosa em origami. O modelo é esse da foto, mas as minhas não ficam tão bonitas assim, talvez por causa do tipo de papel ou talvez pela falta de prática. Se bem que essa última hipótese está sendo descartada, já que desde que aprendi a fazer, qualquer pedaço de papel vira um quadrado que eu pego e transformo em rosa...rs Já virou realmente um vício.

Bom, mas como nem tudo na vida são rosas, essa semana as dobraduras estão suspensas e agora eu tenho que me desdobrar para colocar em dia as leituras da faculdade que nessa semana de Páscoa acabaram sendo deixadas em segundo plano... =P

De resto, tudo está caminhando tranqüilamente. Às vezes a gente faz umas bobagenzinhas achando que vamos ter algum retorno, mas não dá em nada. Depois a gente pondera um pouco e percebe que há coisas pelas quais não vale a pena ficar insistindo, o negócio é deixar na mão do destino, se é que há mesmo destino...

Enquanto isso, outras coisas acontecem naturalmente e nos fazem acreditar na real possibilidade de que não estamos fadados ao pior que a vida pode oferecer. Do que se conclui que o melhor da vida é viver um dia por vez e aproveitar o presente, sem preocupações, sem planejar demais, sem ficar encanado com o passado nem com o futuro. (Embora isso não seja tão fácil de praticar, vale a tentativa)

segunda-feira, 17 de março de 2008

Tsuru - Origami


Semana passada aprendi com meus queridos colegas de estágio como se faz o origami de tsuru!! O tsuru (grou) é uma ave que freqüenta as lagoas ao norte da ilha de Hokkaido, no Japão. Dizem que os tsurus vivem mil anos, por isso o origami simboliza longevidade, sorte, paz e felicidade.

Há uma lenda que diz que se você fizer mil destes origamis desejando alcançar algo, ao final das dobraduras, vc consegue realizar o desejo. Bom, não sei se funciona... pelo menos é uma boa distração! Mas se dobrar mil tsurus é coisa demais, pelo menos pode-se fazer um e oferecê-lo a alguém como forma de desejar boa sorte. =)

Quer aprender também? Dá uma olhada neste vídeo (a música de fundo é esquisita, mas dá pra ver direitinho como se faz a dobradura): http://www.youtube.com/watch?v=MGpEFzsqkng&feature=related

domingo, 16 de março de 2008

Essa velha que não morre...


Sai ano, entra ano, ela se esconde, depois volta, mas nunca morre. Aparece quando é menos conveniente, sem o menor motivo para tal. E estraga dias, tardes ou noites que poderiam ser tão agradáveis. Simplesmente ela vem e leva embora as falas, deixa sorrisos sem-graça e frases pipocando na cabeça numa desordem tamanha que impossibilita a saída. Gestos curtos, respostas curtas, silêncios longos. Depois ela deixa pra trás a sensação ruim de que tudo poderia ter sido melhor. O pior é saber que ela nunca vai morrer. Talvez ela se torne mais maleável, talvez possa-se negociar com ela, abrandá-la. Mas ela é difícil, não cede tão fácil =/ Talvez o remédio seja tentar enganá-la. Ou dar uma rasteira nela e deixar que ela pelo menos fique de cama, fraca e doente. Talvez fosse uma forma d'ela aparecer menos.
Só se precisa saber o momento certo de atacar, de antecipar-se à ela... a velha timidez.

sábado, 15 de março de 2008

Manutenção


De uns tempos pra cá este blog anda meio musical... é que a música preenche espaço quando faltam as palavras, e elas têm me faltado bastante ultimamente, então lá vou eu falar um pouquinho da minha vida, já que tb estou sem sono por enquanto...

Esse ano tá sendo bastante agitado, o que é bom. O problema é só aquele velho problema de adaptação: sair de uma zona de conforto e começar coisas novas é algo que sempre me deixa duplamente mexida. Se por um lado me sinto contente e animada com a mudança, por outro lado vem a insegurança, "será que vai dar certo?" "será que vou conseguir?"... perguntas que a gente faz mas já sabendo que só o tempo é que vai responder.

Mas uma das coisas que anima é que em meio a tantas sensações, inseguranças e medos, há momentos que são como oásis, pessoas ou fatos que durante alguns instantes nos proporcionam alegria, sei lá, faz a gente acreditar que as coisas estão/serão menos difíceis do que parecem.

Não sei como terminar esse post. Acho que agora o sono tá chegando. Bom, vou procurar me dedicar melhor a este blog, coitado. Mas por enquanto vou ficar só nisso por hoje.

(Embora o post seja curto, na verdade levei muitos minutos entre a tela de edição de postagem e outras janelas da internet e do msn... enfim, coisas que se faz quando se está sem sono e na frente do computador... :P)

PS: O título do post talvez não tenha mesmo sentido. =)

sábado, 1 de março de 2008

Flor de capim


Toda vez que avistava uma daquelas flores amarelas de pétalas finas – até quase feias, se comparadas a outras flores – sentia saudades de sua infância. Naquele dia dirigia-se ao trabalho, era uma manhã cinza quando de dentro do ônibus viu no chão do parque algumas daquelas flores tão simples, tão amarelas, que dentre o verde do capim reluziam lembranças tão pueris. Recordava de quando, junto às outras crianças, colhia pequenos maços das tais flores entre uma e outra pausa nas brincadeiras de correr. Naquele tempo os dias passavam em outro ritmo e o contato com flores, capins, tatuzinhos e pequenos caracóis de jardim faziam parte da rotina. Lembrava-se de como era boa a sensação de não ter preocupação, a não ser a de como aproveitar o tempo de lazer da forma mais proveitosa (embora esta sensação não fosse de fato sentida, já que crianças nem pensam sobre isso).

Mas todas essas pensações haviam durado apenas poucos minutos, que foi o tempo em que o ônibus encontrava-se parado pelo sinal vermelho, no caminho de casa para a estação de trem, onde disputaria um lugar num vagão até seu destino, até sua rotina adulta, até seu trabalho. E as lembranças trazidas pela flor de capim eram agora substituídas pelas imagens do futuro que os trilhos do trem a faziam imaginar enquanto aguardava na estação.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Ferreira Gullar - Verão

Homenagem ao final de fevereiro =D

Este fevereiro azul
como a chama da paixão
nascido com a morte certa
com prevista duração

deflagra suas manhãs
sobre as montanhas e o mar
com o desatino de tudo
que está para se acabar

A carne de fevereiro
tem o sabor suicida
de coisa que está vivendo
vivendo mas já perdida

Mas como tudo que vive
não desiste de viver,
fevereiro não desiste:
vai morrer, não quer morrer,

E a luta de resistência
se trava em todo lugar:
por cima dos edifícios
por sobre as águas do mar.

O vento que empurra a tarde
arrasta a fera ferida,
rasga-lhe o corpo de nuvens,
dessangra-a sobre a Avenida

Vieira Souto e o Arpoador
numa ampla hemorragia.
Suja de sangue as montanhas,
tinge as águas da baía.

E nesse esquartejamento
a que outros chamam verão,
fevereiro ainda agoniza
resiste mordendo o chão.

Sim, fevereiro resiste
como uma fera ferida.
É essa esperança doida
que é o próprio nome da vida.

Vai morrer, não quer morrer.
Se apega a tudo que existe:
na areia, no mar, na relva,
no meu coração - resiste.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Rebelion (Lies) - The Arcade Fire

.

Sleeping is giving in,
no matter what the time is.
Sleeping is giving in,
so lift those heavy eyelids.

People say that you’ll die
faster than without water.
But we know it’s just a lie,
scare your son, scare your daughter.

People say that your dreams
are the only things that save ya.
Come on baby in our dreams,
we can live our misbehavior.

Every time you close your eyes
Lies, Lies!

People try and hide the night
underneath the covers.
People try and hide the light
underneath the covers.

Come on hide your lovers
underneath the covers,
come on hide your lovers
underneath the covers.

Hidin’ from your brothers
underneath the covers,
come on hide your lovers
underneath the covers.

People say that you’ll die
faster than without water,
but we know it’s just a lie,
scare your son, scare your daughter.

Scare your son, scare your daughter.

Now here’s the sun, it’s alright! (Lies!)
Now here’s the moon, it’s alright! (Lies!)
Now here’s the sun, it’s alright! (Lies!)
Now here’s the moon it’s alright (Lies!)

But every time you close your eyes. (Lies!)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Sessão auto-ajuda: Superação


A vida é cheia de desafios, isso é fato. E as pessoas se dividem basicamente entre aquelas que conseguem superar estes desafios e as que não conseguem. Dentre as que conseguem superar há aquelas que têm "sorte" e aquelas que se esforçam.

Dentre as que não conseguem, há aquelas que tentam e há aquelas que desistem. As que desistem se subdividem entre as que têm medo e as que têm preguiça.

As que têm medo podem tê-lo devido a experiências anteriores negativas ou podem tê-lo sem fundamento. Estas que têm medos sem fundamentos sofrem por algo que simplesmente nem sabem se existe. Com o medo não conseguem se esforçar para tentar superar desafios. E tendem a se tornarem pessoas apáticas.

A apatia é pior que a tristeza, porque uma pessoa apática sequer se entristece. Não se entristece, não se alegra. Não fala, não pensa direito. Não coloca planos em prática, aliás, muitas vezes nem faz planos.

A pessoa apática e com medos sem fundamentos precisa buscar dentro de si mesma forças para se levantar. Mas ninguém se torna uma pessoa apática por vontade, por isso, a vontade também não é tão eficiente no processo reverso. Ainda assim, muito se fala sobre a força de vontade, a força do pensamento, das palavras...

Os livros de auto-ajuda são vendidos aos milhões. No entanto, são detestados (ou pelo menos não são apreciados) por muita gente (eu me incluo nisso). Por quê? Acredito que seja porque eles dizem coisas óbvias e redundantes demais. Mas aí é que está: os livros de auto-ajuda vendem muito, isso é incontestável. Logo, isto se deve ao fato de que aquelas pessoas com medos infundados, as pessoas apáticas, não são capazes de enxergar coisas óbvias! Por isso várias destas pessoas recorrem à ajuda destes livros, para verem algo que não conseguem enxergar sozinhas.

Eu não sou psicóloga. Mas sou uma pessoa com medos infundados, por isso me propus escrever sobre isso. Felizmente acredito que ainda não tenha chegado ao extremo da apatia e pretendo não precisar recorrer aos tais livros (nem a psicólogos)... Tudo isso que escrevi não passa de pensamentos soltos de uma pessoa meio às voltas com a realidade que está vivendo, uma fase de mudanças e de grandes desafios.

Pretendo deixar de estar no grupo das pessoas que desistem por medo e passar para o grupo das que se esforçam. E pra isso vou procurar usar a auto-ajuda no sentido mais estrito da palavra: aquela ajuda que vem de dentro da gente mesmo, sem precisar recorrer a ajuda externa. É nessa força que eu acredito: a da superação.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

20 de fevereiro



Leve como leve pluma
Muito leve, leve pousa
Muito leve, leve pousa

Ah, simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma
Suave coisa nenhuma

Sombra silêncio ou espuma
Nuvem azul
Que arrefece

Simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma
Que em mim amadurece

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

pOVO - De Renata Martins

A gente se sente como uma pesca viva amassada dentro de uma condução, seja ela ônibus, metrô ou mesmo lotação.

Dizem que a gente se acostuma. Não acho, não creio que a gente se acostume. Acho que... é, acho que a gente realmente se acostuma, sinto que nós nos calamos, engolimos a seco como a farinha do almoço, o silêncio sem sucesso que corta a garganta na ânsia de se libertar.

A gente se sente palhaço, acreditando há anos nas promessas dos governantes, nos descontos dos feirantes, nas doze vezes sem juros, no aumento de salário há muito esperado, na promoção sonhada, com o sapo encantado, com o muito obrigado. A gente nem precisa de espelho para ver que o nariz continua cada vez mais vermelho. No andar apressado, vejo que não existe somente um palhaço.

A gente se sente tão só neste mundão lotado, parece que nossas idéias, nossos ideais são somente brilhantes para nós mesmos, parece que somente o nosso sol nasce à leste, parece que somos todos surdos, mudos, cegos. Se não somos, fazemos questão de tapar os ouvidos, a boca e os olhos e nos fingimos de rocha sem sentimentos, apenas com sedimentos, sem sentidos, sem...

Não choramos mais, não notamos mais as perdas, vivemos em bandos isolados preocupados somente com o nosso próprio bem estar, nos tornamos criaturas unitárias, unilaterais, unicoração, unipensamentos, unisentimentos.

A gente vive à noite e dorme de dia, vive o dia e não dorme à noite, perde a noção do tempo, nos bares a noite ganha sentido, corremos sem direção, falamos mas não indagamos, não perguntamos mais porquê.

Não sonhamos tão mais, não acreditamos mais, não sorrimos mais, não agradecemos mais, não sentimos mais, brigamos com nós mesmos, não libertamos nosso coração, brigamos com a vontade e sobrepomos à ela a verdade. Porém a verdade da conveniência, a verdade que a sociedade acredita ser verdade. Nossos sonhos não acordaram ainda, não somos... nunca fomos ou fomos? Fomos.

Porém, o que um dia fomos se foi e não conseguimos colocar nada no lugar. Nos tornamos massa sem peso, somos garrafas sem líquido, somos a continuação do teclado, somos peça que tem uma certa vida no carro, somos o carro.

Nos tornamos a sociedade que Gepeto desenhou, nosso nariz não pára de crescer, mentimos para este, mentimos para aquele, mentimos todos os dias para nós mesmos... Ah... mentimos para nós mesmos...

Nos maltratamos, nos sufocamos, nos mutilamos a cada dia. Somos juízes dos outros, somos o dedo que em riste acusa. Somos a semente que não vingou, somos a gema do ovo que não nasceu.
Mas éramos o grito dos injustiçados, tínhamos sonhos, tínhamos propósitos, éramos a lágrima que caía dos olhos de um irmão torturado, éramos o sonho da revolução, éramos a república instaurada, éramos o direito adquirido, éramos a passeata, a greve generalizada, éramos a indignação, éramos o não, éramos a CLT, éramos as Diretas Já, éramos a vitória de setenta, éramos o fim da ditadura, éramos a Tropicália, éramos o Cinema Novo, éramos a Semana de Arte Moderna, éramos a Bossa Nova, éramos... éramos?

Éramos a História que hoje é contada, éramos o povo. Agora não somos mais, não mais...


Renata Martins é uma pessoa fantástica que infelizmente não vejo há um tempão... Ela faz faculdade de cinema e escreve textos muito bons como este.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Importante-banal

Exercia função importante: era guardião de um bem precioso. Protegia de intempéries que com freqüência tentavam alcançar e prejudicar este bem. Como era guardião, seu local de trabalho era o lado de fora. Assim, permanecia sempre ali em seu lugar. Ao lado de seus colegas de função desempenhava louvável trabalho. Se não se pudesse dizer que eram imbatíveis, ao menos eram esmerados. Vento e poeira eram barrados com eficácia.

Porém, como é passível de ocorrer com qualquer equipe de trabalhadores dedicados, alguma vez algum deles cansava-se e curvava-se, perdendo assim seu posto e automaticamente sendo desligado de suas funções. Outras vezes algum outro, por curiosidade, voltava-se para dentro a fim de ver como era, a despeito dos demais colegas, sempre firmes em posição de guarda. Em raras vezes algum outro era tão ousado que chegava a de fato invadir o lado de dentro (!), causando enorme desconforto àquele a quem guardavam, tendo que ser retirado à força, por meio de intervenção externa.

Mas casos isolados, como estes, não desabonam esta equipe que, desde há muitos milhares de anos trabalham em prol da proteção. São chamados de cílios oculares.



segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Pitada de surrealismo


Gato listrado com sabão roxo. Caiu no plaftplum forrado de lemistomantes tomates azuis que cantarolavam pesados teares de espuma de sabão. Na noite clara e nevada do verão xadrez que veste um colossal televisor prateado com sonoros azeites de caramelo azedo. Espalhou-se sobre a calma da senhora verde com quadros alegres sob os pés de mãos. Nada tinha a dever aquela imagem aos sonhos irreais que irrefreados pulavam das teclas de seu computador de plástico. Como fosse o gato um gato que latia, só poderia ser ele listrado. Fosse xadrez seria um gato que urra. E estes não andavam com sabões roxos. A senhora miava que não podia ser verdade. Que nada havia com nome lemistomante, mas plaftplum havia. Sumiu no ar como nuvem que explode. Era verde porque miava. Se uivasse seria vermelha. O gato entrou no muro de barro que tinha uma cauda de pavão de bolinhas. Sumiu listrado dentro do muro com o sabão roxo. Foram inventados numa folha sem cor, sem pauta, sem mãos e sem portas. Foram inventados e exterminados, como coisa que se escreve e depois desmancha.

Quadro do espanhol José Manuel Merello, que faz arte expressionista e surrealista em belíssimos quadros.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Alguém é melhor?

Tenho escutado bastante a música "Eu sou melhor que você", do Banzé. Fala sobre o quanto algumas pessoas são tão pequenas quando se acham maiores do que são... Que muitas vezes as pessoas fazem imagens de si que não são verdadeiras. Que muitas vezes as pessoas se acham mais do que realmente são... Que se acham mais importantes, que se acham melhores que as outras. Mas no final, o que estão fazendo é pedindo atenção. Achando-se melhores, mais importantes, estão pedindo "olhem pra mim, por favor, vejam, eu tenho qualidades".
Triste saber que por trás de uma exuberante mulher ou de um homem bonitão estão pessoas sozinhas, seres humanos normais e comuns, que como todos precisam ter outras pessoas por perto e, talvez inconscientemente ou não, apelam pro orgulho e sobem num pedestal imaginário, exigindo reverência ou pelo menos querendo ser referência.
Eu penso que ninguém é melhor que ninguém, todo mundo tem suas qualidades e seus defeitos. Seria um saco se houvesse pessoas perfeitas. Ainda bem que não há.

"Eu sou melhor do que você... mas por favor, fique comigo, que eu não tenho mais ninguém"
Bom, melhor do que eu ficar falando, prefiro que vc escute a música e dê sua opinião ;)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Sem lugar


Cheguei na porta de um mundo que não é o meu. Ameacei entrar, achei mesmo que fosse fácil, que houvesse um corredor que ligasse o meu mundo a este outro, mas não há, pelo menos não está visível. Algo me impede, porém, de voltar pra casa. É como se de alguma forma eu não coubesse mais naquele lugar de onde vim. Mas ainda não pertenço a este novo lugar. Então começo a rever o caminho percorrido, tentando encontrar alguma explicação. Percebo que andei na contramão de coisas que eu mesma acreditava serem reais. Coisas que pareciam ser a solução de um monte de problemas... na verdade elas não resolvem todos os problemas. Elas me fazem pensar em outros tipos de problemas e quem sabe, em problemas muito maiores. O fato é que não dá mais pra voltar para o mundo de onde vim. Não seria bem vista por lá... mas ainda não sou bem vista neste, também. Sou simplesmente uma mutante, cheia de diferenças tanto lá, quanto aqui.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Indicação =)


Nossa, tô emocionada!! Acabei de ir visitar o blog da Jéssica, o Devaneios Bobos e me surpreendi ao ver o "Defenestrações" indicado para o selo Blog Cabeça... êÊeeee!!! Na verdade não acho que o Defenestrações seja um blog cabeça :P, então além de emocionada fiquei meio sem jeito também...rs mas já que a Jéssica (que escreve muito bem, por sinal) tá dizendo...hehehe

"É gostoso ler os textos da Paula! Tão bem feitos, tão cheios de significados, e como todo bom autor, ela aguça a imaginação do leitor (a rima não foi proposital!)"


Então meus cinco indicados são os seguintes:

Clube do Camba, da Mari
Confessionário, do César
Espada do Templário, do Otávio
Mundo de Dentro, da Melissa
Nasci na época errada, da Gisele

Estes com certeza são blogs-cabeça!

Obrigada, Jéssica!!
=)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

ai... ui...



Não sei de onde veio esse golpe que me acertou bem no estômago. No coração ficaria muito piegas, mas na verdade foi lá no coração mesmo que me acertou. E na verdade eu sei de onde veio. Veio de um vazio que foi preenchido por ilusão. E foi um golpe certeiro mesmo. Daqueles que a gente se sente zonzo, sem rumo. Mas depois a dor passa. Passa só que a gente não esquece. Mas a lembrança do golpe faz a gente ver as imagens em câmera lenta, e percebemos que só fomos atingidos pelo golpe porque demos brecha em algum momento. E é esse momento que identificamos, depois de um tempo. Assim, conseguimos nos prevenir numa próxima ocasião em que venha um outro golpe. E virá.

Esquivar ou revidar, eis duas alternativas.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Refresh

Tarde da noite, cansado de trabalhar, parou por um momento. Estava sentado diante de seu companheiro eletrônico – o computador – e pensou em voz alta “ah, se a vida fosse tão simples quanto ele... Daria refresh, delete, enter, print screen conforme fosse necessário... em casos extremos, até um format!”

De repente percebeu um zumbido. A janela de madeira de seu quarto estava entreaberta. Era noite de outono, mas fazia calor. Foi quando junto com um vento moderado, entrou um ser voador de tamanho muito pequeno, não sendo possível à primeira vista diferenciá-lo de um mosquito. Minutos depois de observar aquele ser que havia pousado vagarosamente sobre a mesa, é que percebeu que se tratava não de um mosquito, mas de um homenzinho! Não tinha mais do que um centímetro, mas isso não implicava falta de elegância no vestir-se: usava terno, gravata, sapatos lustrados e um chapéu, desses do tipo cartola, e era muito simpático, embora toda aquela roupa lhe conferisse um certo ar grave.

Atônito, a princípio olhava com cara de interrogação para aquele homenzinho, que permanecia parado, ereto à sua frente sobre a mesa. Passados alguns segundos de completo silêncio, ele perguntou ao pequeno:

— Quem é você? O que faz aqui?
— Ora, então não foi você quem desejou que a vida fosse como no computador?
— Oh, sim, claro! Eu disse isso, mas quem me dera se a cada desejo meu aparecesse alguém para realizá-los... Certamente eu não estaria aqui trabalhando noites à dentro.
— Entendo, filho. No entanto não posso te ajudar com relação aos demais desejos, sejam eles quais sejam. Meu departamento é realizar os sonhos cibernéticos. E sabe, já estou um tanto cansado dessa vida, e se não se importar, gostaria que fôssemos logo ao ponto. Então você quer que sua vida se transforme num sistema computacional não é, então vamos lá. Mantenha-se em pé, por favor. Agora vou...
— Ei calma! Você seja lá quem ou o que for, não pode estar falando sério! Isso tudo não pode ser sério! – o rapaz estava realmente espantado com aquela situação.
— Você está certo, meu jovem. Permita que me apresente. Sou Morpheu.
— Hahahaha... você está brincando comigo. Morpheu!
— Sim, sei o que deve estar pensando. Matrix. E até concordo com seu espanto. A verdade é que quem aparece primeiro sempre recebe as vantagens do reconhecimento. Mas você acha mesmo que os irmãos Wachowski seriam tão fantásticos a ponto de inventarem inclusive este nome? Exatamente. Foi em mim que se inspiraram. Deixe-me ser breve em contar minha história: sou o deus dos sonhos, filho de Hipnos, deus do sono. Sempre que alguém deseja algo com força, eu apareço para realizá-los. Só que vocês humanos pedem coisas demais! Portanto há poucos séculos meu pai achou por bem me dar alguns irmãos e a cada um de nós estabeleceu jurisdições próprias para realizações de desejos. Há uma década tornei-me responsável pelos sonhos relacionados ao mundo cibernético. Portanto, realizarei o desejo que o senhor, jovem rapaz, acabou de proferir antes que eu me adentrasse ao seu quarto.
— Hahaha... inacreditável. E engraçado. Bom, já que está aqui vamos ver o que é isso!
— O-bri-ga-do. – ele apresentava um tom meio rabugento nesta frase, como quem não precisasse agradecer por algo que já lhe era de direito. – Agora passemos ao que é de interesse, afinal ainda tenho muitos outros afazeres.

O rapaz não podia acreditar no que ouvia e via. Mas aquilo tudo estava acontecendo de fato, ali diante dos seus olhos, tudo o que tinha a fazer era aproveitar aquele momento. Então logo se acostumou à idéia e já se via ansioso por dar os devidos deletes, refreshs, enters e demais comandos que tão úteis lhe pareceriam...

— Ó forças ocultas! Atendei através de mim, ao pedido deste homem! Alacazam!
— Ué, então é só isso?! “Alacazam”?
— Sim, filho. Simples assim, mas não é para todos. Como disse, sou o deus dos sonhos.
— Está certo... Vamos ver se isto funciona mesmo... vou dar um ctrl+f para encontrar o outro par do meu tênis, que sumiu aqui dentro do meu quarto!

E em frações de segundo, lá estava o par de tênis. E o rapaz, encantado com aquilo, não tinha palavras para dizer o que sentia, tamanha era sua satisfação. O homenzinho, vendo que o jovem já estava satisfeito, partiu pela mesma janela pela qual havia entrado e o rapaz nem percebeu sua saída.

Então começou a pensar no próximo passo que daria, agora que tinha “super-poderes”. Claro!! Daria o refresh, o comando com o qual tanto havia sonhado. Em frações de segundo sua vida estaria completamente atualizada de acordo com seus planos. Nada de chateações nem perturbações. Sua vida em nova versão. E foi então que...
...Acordou com sua mãe batendo à porta de seu quarto... era seu chefe ao telefone informando que o cliente havia reduzido o prazo. Claro, onde mais além de nos sonhos criaturas minúsculas entrariam por janelas e realizariam sonhos impossíveis? Morpheu... pfff

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Madrugada

Texto antigo, mas eu gosto dele.



Madrugada é boa para escritores, para músicos, para casais apaixonados
Madrugada é boa para cansados, para sozinhos e para acompanhados
Madrugada é boa para vizinhos beneficiados com a lei do silêncio
Madrugada é muito boa para amantes de casas noturnas (e para os donos das casas noturnas)
Madrugada é para muitos turno de trabalho pesado! Enquanto muitos dormem muitos outros trabalham...
Madrugada é dia ainda com cara de noite
Madrugada é chegada de um novo amanhecer
Madrugada é alvorecer, é renascer
Madrugada
Madrugada
Santa Madrugada!

domingo, 6 de janeiro de 2008

Fora, desânimo! Venha, Bowie! hahaha

Tô aqui em casa, agora, 00:30, pensando na vida. Na frente do PC, com preguiça de ir dormir. Triste com o triste desenrolar desta semana, achando ou pensando que o ano inteiro vai ser assim... De repente me ocorreu que EU É QUE FAÇO A MINHA VIDA. Não é ela que é boa ou ruim, ou melhor, se ela é boa ou ruim, é culpa ou mérito meu. É, vc pode achar óbvio, mas eu não enxergava desse jeito. 2007 teve coisa chata, bastante coisa chata. Saí do emprego (por opção, é verdade, mas até hoje ainda estou sem trabalhar); me iludi por um cara que não tava nem aí pra mim; fui mal no semestre da faculdade e 2008 começou comigo imersa numa grande apatia. E me vi agora, há poucos minutos perguntando e maldizendo o destino... “ó céus, ó vida, ó az*r”. Mudei a música q estava escutando. Tirei o Keane e coloquei o David Bowie, Modern Love (adoro!), nem tanto pela letra, mais pela música mesmo, pela melodia. E não sei de onde tirei, mas em questão de segundos me vi animada! Com fôlego novo. Saí do emprego? Arrumo outro! O cara me deu fora? Eu supero! Fui mal no semestre da faculdade? Tá em tempo de recuperar! Meu cabelo tá um lixo? Dá pra arrumar! Tô com o sono zuado? Daqui a pouco vou ir dormir! [E até quase tive uma gata de estimação pra adotar, que apareceu na porta da minha casa, mas tadinha, devia ter se acidentado e não viveu por muito tempo... =´(]
Pra tudo há solução. Bom, algumas não são tão simples, eu sei. Mas não tô afim de perder esse otimismo não. Vou fazer esforço pra me manter assim ao longo da semana, do mês e da vida. Sei que vai ter momentos de recaída... o bode pode aparecer às vezes. Mas eu estou me comprometendo COMIGO a partir de hoje. E é isso aí!!

Bjomeliga!



P.S.: Corro o risco de daqui poucos dias (ou minutos) me arrepender de postar isso... e até achar ridículo... É, eu sou realmente uma pessoa meio “depressiva” ou incrédula de mim mesma. Mas vou deixar esse post aqui, pra eu sempre me lembrar que pelo menos por alguns momentos me senti otimista de verdade.

“But I try, I try...”

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

O primeiro dia do ano...



Hoje é o primeiro dia do ano. 2008. Ano bissexto. Ano par. Ano novo. No meu primeiro dia do ano não teve manhã. Acordei às 12:30. Não almocei, acho que a ceia de ontem ainda está no meu estômago (!!). Ventilador na potência máxima, sofá irresistível, programação da tv inaceitável, mas na falta de coragem para fazer qualquer coisa, tá valendo (até o sono já foi esgotado). As únicas pessoas que vi hoje foram meu pai e minha mãe... Há alguns minutos entrei na internet pra ver se me distraio um pouco, já que não consegui continuar lendo o livro que comecei há uma semana (impressionante como o calor me tira a vontade de pensar). E todo otimismo que eu parecia ter ontem, hoje deve ter ficado lá no travesseiro.

Bode gigante, começo a ouvir a trilha sonora do filme "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain". Nesse momento exato, ouço La Valse D'Amélie (Versão em piano). É uma belíssima música. Mas não é das mais animadoras... mesmo assim continuo escutando, porque me faz pensar (ao contrário do calor, que insiste em me fazer não pensar). Aí penso nesse ano que tá começando hoje. E penso nas coisas do ano passado que ainda não terminaram, como o semestre da faculdade. Tenho trabalhos pra entregar esse mês, como reposição pela greve de 2007. E começo a pensar que preciso começar a trabalhar, o estágio que eu acreditava certo até o momento não iniciou (maldita burocracia!). Mas como não sou muito de planejar, opto por evitar pensar muito em coisas à longo prazo. Mas mantive a música, o som do piano me tranqüiliza, de alguma forma. Eu não sei dizer como estou me sentindo hoje. Acho que não estou nem bem nem mal. Por isso acho melhor finalizar este post. O primeiro dia do ano ainda não terminou, mas acho que não vai mudar muito em relação ao que tem sido até agora: eu aqui em casa sozinha (meus pais foram à casa de uns amigos) ouvindo música instrumental (talvez comece a ouvir uns rocks \o/), na frente do pc (não por muito tempo, maldito calor!), com um humor não muito agradável (ainda bem que não vi muitas pessoas hoje né...rs).

É, esse primeiro dia do ano tá sendo pra mim meio... soturno. Que ele não seja exemplo para os outros 365 dias! (Este terá 366, já que é bissexto)

E meu dia prossegue...

Tomara que aconteça uma mágica e que meu dia mude. Se isso acontecer, eu conto aqui sobre como me tornei crente na arte do pensamento positivo.