sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Leitura inocente sobre o nunca

Peço licença para postar um texto já meio surrado, que já apareceu nos meus blogs anteriores. Mas gosto dele, então aqui vai novamente...

Nunca: palavra pesada como poucas sentenças punitivas conseguem ser. Palavra tão definitiva quanto difícil de escutar (porém muito fácil de dizer). Será?

Nunca não é um sujeito, não é um lugar e nem é um tempo. Nunca é simplesmente algo que à algumas pessoas fere, mas algo que ao mesmo tempo, contraditoriamente, pode até significar salvação de alguma situação: "Nunca mais pisarei naquele lugar imundo", "Nunca mais precisarei fazer aquilo", "Nunca mais voltarei a ver ou falar com Fulano"... e assim, dizendo o nunca, nos sentimos salvos.

Mas o nunca será mesmo assim tão definitivo? Será que ele não é mais um cara com cara de mau, mas que no fundo nem é tão mau assim? É que às vezes o nunca é interrompido. Ele às vezes dá espaço para um talvez. O talvez é aquele cara indeciso ou aquele cara que pondera... Mas o nunca gosta de prevalecer, porque como disse, ele é fácil de ser dito. E assim as pessoas dizem "Nunca!!" e outras retrucam "Nunca diga nunca!". O que querem dizer? Estão desacreditando do nunca? Ou o estão temendo?

É... o nunca é complicado. Porque é uma palavra carregada de ambigüidade. Não no sentido do dicionário. Nunca é nunca, jamais e ponto. Ambígua em suas aplicações, pois pode ser dita hoje, como sendo uma sentença de morte, para depois, talvez amanhã mesmo, ser ignorada, como se tivessem lhe arrancado toda gelidez que havia quando fora pronunciada, deixando o nunca nu diante da mudança, como se lhe tirassem a autoridade, como se ele tivesse sido usado apenas pela imagem que tem, e não pelo seu real significado...

Nunca é muita coisa. Nunca é jamais. E como podemos prever que jamais acontecerá alguma coisa novamente? Como prever que jamais voltaremos a sentir ou pensar alguma coisa? Como prever que jamais voltará a acontecer o que o nunca decretou que não aconteceria? Difícil, né...

Para uns o nunca dá medo, para outros, ele não exerce mais nenhuma influência. E é assim que as palavras vão perdendo seu sentido. Muitas vezes quando são ditas assim, à torto e à direito, acabam mesmo correndo risco de perderem seu sentido... E o nunca, agora, pelo menos para mim não tem nada de definitivo. É uma palavra 'oca', como se quisesse impor algo que não consegue mais. Uma palavra derrotada, desapropriada do seu poder em um mundo completamente vulnerável a mudanças.

Acho que eu só voltaria a acreditar no nunca se eu pudesse ir viver na Terra do Nunca. Ali sim ele deve reinar, glorioso.

3 comentários:

  1. Segredo?
    Eu também prefiro acreditar :)
    Mas tá difícil, ainda mais quando vc se apaixona por um desses... hehehe
    Eu que não vou perder meu tempo acreditando nisso. =)
    Adorei seu texto, vc escreve muito bem!

    Bjoss e obrigada por comentar lá!

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  2. Belo texto...
    Nunca é tempo demais...
    Abraços
    Everaldo Ygor
    http://outrasandancas.blogspot.com/

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