sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Boa noite, Solidão

Vai entrando, solidão. A casa é tua.
Nesta hora em que a cidade se amortalha.
Não há ruído aqui, nem lá na rua;
Ninguém nos ouve, nem nos atrapalha.

Empresta-me ouvidos de silêncio.
Teus olhos cegos e teu canto mudo;
Me empresta este vazio, enquanto penso.
Pra que eu, pensando em nada, esqueça tudo.

Quero em teu colo, acomodar-me quieto.
Deixar passar o tempo em abandono;
Ficar horas a fio olhando o teto,
Até sentir cansaço e vir o sono.

Saudade pode vir bater à porta...
Tristeza? É quase certo que ela vem.
Deixa que entrem...Tanto faz e pouco importa;
A casa é grande e o coração também...

Se por acaso eu sorrir sozinho,
Disfarça, solidão; sejas discreta,
Pode ser a lembrança de um carinho
A visitar-me nesta hora quieta.

Se, se repente, eu chorar baixinho,
Também não faças caso, solidão.
É só a cicatriz de algum espinho,
Que um dia me arranhou o coração.

Amores vem e vão. Como os amigos;
Nem bem um chega, outro desaparece.
Só minha solidão fica comigo;
Não muda, não se vai, não envelhece.

Por isso, quando chegas não reclamo;
Abro-te a porta e te recebo bem,
Talvez devesse até dizer que te amo,
Pois tu és sempre o amor de quem não tem.

...Por fim, quando vai alta madrugada,
Rezo um "Pai-Nosso" e um Sinal da Cruz,
"Boa-Noite, Solidão"...Não ouço nada...
"Boa-Noite, Solidão"...E apago a luz...

Composição: Odilon Ramos


Isto diz tudo o que eu gostaria de escrever agora.

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